
Texto e foto: Anderson Barbosa/Fractures Photo Collective
(English version below)
A cidade de Altamira vem passando por um acelerado processo de crescimento populacional devido as obras da hidrelétrica de Belo Monte que desde junho de 2011 está em andamento na cidade. Até maio de 2012, apenas 11 meses após o início das obras, a cidade saltou de 45 mil para 140 mil habitantes (números da Prefeitura de Altamira), acarretando em problemas no abastecimento de energia que não foi adaptado para atender a crescente demanda na cidade, trafego intenso de veiculos, aumento do preço de vários produtos alimentícios, inclusive os produzidos na região, aumento de 400% do aluguel, tráfico e consumo de drogas e pequenos furtos. A alegação dos responsáveis pela construção da usina, o Consórcio Construtor Belo Monte e a Norte Energia, que foi assimilado por boa parte da população local, é que as obras atraem investimento e consequentemente, desenvolvimento para a cidade de 100 anos mas que sofre com a falta de infraestrutura. Um desejo local desde o inicio da abertura da rodovia Transamazonica, no inicio dos anos de 1970, quando Altamira foi considerada a capital da Transamazonica. Hoje, a cidade que vem sofrendo com o aumento constante do aluguel e dos alimentos devido o crescimento populacional, ainda nao abriu vagas no mercado de trabalho para o cidadão local poder sobreviver na cidade. A maioria dos trabalhadores da construção de Belo Monte são de outros estados. Conhecidos como barrageiros, os trabalhadores são na maioria vindos de outras hidrelétricas e grandes construções pesadas. Recente estudo do Ministerio Publico Federal do Para, aponta apenas 40% da mao de obra local, os demais 60%, sao predominantemente mão de obra migratória, que não pára de surgir na cidade.
Como esse impacto na economia local não foi capaz de suprir a necessidade dos trabalhadores locais, muitas familias vivem da coleta de material reciclável, preferencialmente, retirados do lixão da cidade que ja existe ha 30 anos.
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Dona Irene Souza Almeida, 56 anos, é uma das 40 pessoas que diariamente retiram da grande area onde se despeja todo o lixo produzido não apenas por Altamira, latinhas de aluminio e embalagens plasticas que lhe garante entre 350 e 400 reais por mes na venda do material que é intermediada por pequenos ferro velhos que vendem para indústria de reciclagem.
Dona Irene vive sozinha em uma pequena casa no bairro da Liberdade, proximo 15 minutos do lixão, em uma casa alugada por R$80,00 mensais. “A dona da casa é uma pessoa muito boa e alugou pra mim por esse preco, porque ela teve dó de mim que sou pobre”, conta ela, enquanto afugenta a imensa quantidade de urubus para recolher as latinhas de um monte de lixo recém despejado por um caminhao da limpeza urbana da prefeitura. Mae de 8 filhos, 7 homens e 1 mulher, todos casados, Dona Irente conta que quando foi casada, trabalhava na lavoura de cacau na cidade de Senador Jose Porfilio. Ela conta que foi embora porque nao aguentava mais o marido que sempre chegava alcoolizado em casa e a agredia. Seus filhos ainda trabalham na coleta de cacau em fazendas da região. A filha vive em Vitoria do Xingu, e casada e trabalha como diarista.
Todos os dias, dona Irene chega ao lixão as 7 horas da manha e trabalha ate as 13 horas e diz que ja chegou a recolher cerca de 150 kilos entre aluminio e plastico, o que lhe rendeu um dinheiro inesperado na epoca que lhe permitiu comprar um fogao novo. Em julho de 2012, a Norte Energia havia iniciado um curso de capacitação para todas as pessoas que trabalham no lixão, que contava com noções de cooperativa e administração e operação de maquinas prensa para fazer os fardos com o material recolhido e todo selecionado, devidamente separados. Algumas das pessoas tinham receio deste curso porque nao confiavam nas propostas da empresa e que poderiam ganhar menos no final do mes, devido aos custos que acarretam o funcionamento de uma cooperativa. No lixão de Altamira, cada um adminsitra sua propria produção e como vende. Ha alguns casos em que duas familias trabalham juntas e dividem o lucro. Como não tem gastos, o lucro é praticamente bruto e dividido 50% para cada.
O curso oferecido pela Norte Energia nao seguiu adiante devido a desconfiança dos catadores, desconfianca esta que foi abalada com os protestos de pescadores, indigenas que ocuparam por 2 vezes os canteiros de obra da usina reivindicando o atendimento que havia sido firmado entre o consorcio, Ibama e Funai para o inicio das obras e depois com a greve dos operários que culminou em tres dias que quebradeiras dentro de dois dos 3 principais canteiros de obra, Belo Monte e Sitio Pimental, causando enormes danos ao consorcio, com alojamentos destruidos e maquinário incendiado.
Devido a estes protestos, os trabalhadores do lixão se sentiram desmotivados a continuar o curso, temendo que o consorcio não atendece tudo o que era oferecido.
Dona Irene esta entre as que não seguiram o curso por desconfiança e preferiu seguir trabalhando sozinha, no maximo com a ajuda dos outros companheiros do lixão.
Belo Monte. Projetos faraônicos do governo federal colocam em risco a maior floresta do mundo
Belo Monte é um dos cerca de 120 projetos de barragens e hidrelétricas que o governo brasileiro tem planejado para a regiao da Amazônia a fim de gerar eletricidade para sua economia em expansão – basicamente para as indústrias. De outro lado, ambientalistas e grupos indígenas contrários a barragem se opoem ao projeto. Segundo eles, a Amazônia que abriga 60% da maior floresta do mundo, está ameaçada pelo rápido desenvolvimento do país. A área é atualmente habitada por mais de 20 milhões de pessoas e é desafiada pelo desmatamento, pela agropecuaria, mineração, projetos governamentais de construção da barragem, a especulação imobiliária, incluindo a ocupação e desmatamento de reservas florestais e terras indígenas.
Considerada a obra mais importante do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, Belo Monte consumido até agora aproximadamente US$2 bilhões, que representa apenas 20% do seu orçamento. Recentemente o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) liberou US$10,5 bilhões para o consórcio que gerencia a construção de Belo Monte. US $7 bilhões serão transferidos pela Caixa Economica Federal e US$2 bilhões pelo BTG Pactual. O restante virá exclusivamente do BNDES, com recursos públicos. De acordo com a instituição, este é o maior financiamento aprovado no país e com cada liberação de recursos, a Norte Energia deve demonstrar conformidade ambiental.
As obras de Belo Monte sofreram várias paralizações desde seu início. A primeira em abril, quando operários entraram em greve reivindicando baixada (maior tempo de visitas familiares) e aumento salarial. Outra em Junho devido a ocupação indígena do canteiro durante 21 dias, exigindo o cumprimento das condicionantes que reduziriam os impactos da obra em suas aldeias. A terceira aconteceu em agosto, por decisão da justiça pelas denúncias Ministério Público Federal. A quarta em setembro, com uma nova ocupação de pescadores e indígenas por mais de um mês. Outra teve lugar em novembro, após uma reunião dos trabalhadores que se recusaram a proposta do sindicato e do consórcio, que resultou em três dias de incêndios e destruição em dois principais canteiros de obras de Belo Monte. A empresa suspendeu o trabalho e liberou os trabalhadores, alegando falta de segurança.
A mais recentemente, um grupo de cerca de 200 indigenas de oito etnias, entre elas, Munduruku, Kayapó, Arara e Jurura, ocuparam por uma semana o principal canteiro de obras de Belo Monte, onde ficará o gerador de energia da usina, exigindo que as obras fossem suspensas até que eles sejam ouvidos pelo governo federal.
Após 8 dias Tribunal Regional Federal da 1a. Região (TRF1) deferiu, às 22:40 de quarta-feira, 8, a reintegração de posse do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Belo Monte. Foi autorizado o uso de força policial. Os indígenas solicitavam a presença de Gilberto Carvalho, secretário geral da Presidência da República para dialogar, que não compareceu.
A decisão de reintegrar a posse foi tomada pela desembargadora Selene Almeida, do TRF1, e despachada pelo juíz Sérgio Wolney Guedes, de Altamira. O despacho também indeferiu os pedidos do Ministério Público Federal (MPF) do Pará que fosse permitida a presença de jornalistas e advogados na ocupação.
Após 24 horas de tensão, a operação de reintegração de posse montada desde as primeiras horas da madrugada foi suspensa no final desta tarde. O dia foi tenso nas proximidades e no interior do sitio Belo Monte. Os indígenas que serao atingidos pelos projetos nos rios Tapajós, Teles Pires e Xingu reivindicam a consulta previa para obras que o governo federal pretende realizar em terras indigenas na Amazonia.
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The city of Altamira has been undergoing a process of accelerated population growth due to the construction of the Belo Monte hydroelectric plant that since June of 2011 is underway in the city.
Until may 2012, just 11 months after the beginning of construction work, the city jumped from 45 000 to 140 000 inhabitants (numbers of Altamira), resulting in problems in energy supply that has not been adapted to meet the growing demand in the city, heavy vehicle traffic, increase in the price of various food products, including those produced in the region, 400% increase of rent, trafficking and consumption of drugs and petty theft.
The claim of responsibility for plant construction, the Belo Monte and Consórcio Construtor North energy, which was assimilated by much of the local population, is that the works attract investment and consequently, development for the city of 100 years but who suffers from the lack of infrastructure. A desire since the beginning of the opening of the Transamazonica Highway, at the beginning of the years 1970, when Altamira was considered the capital of the Transamazonica.
Today, the city is suffering from the steady increase in the rent and food because of the population growth, still not opened vacancies on the labour market to the local citizen be able to survive in the city. Most of the employees of the construction of Belo Monte are from other States. Known as dam-building staff, the workers are mostly from other dams and large heavy constructions.
Recent study of the Federal Public Ministry To, 40% of mao only points of local labor, the remaining 60%, are predominately migratory labor, which is constantly arise in the city.
As this impact in the local economy was not able to meet the need of local workers, many families live the collection of recyclable material, preferably, removed from the dump of the city that already exists there 30 years.
Dona Irene Souza Almeida, 56 years old, is one of the 40 people who daily take of the large area where if it turns out all the garbage produced not only by Altamira, aluminum cans and plastic packaging that guarantees between 165 and 190 dollars per month on the sale of the material that is mediated by small old iron that sell for recycling industry.
Dona Irene lives alone in a small house in Liberdade, near 15 minutes from landfill, in a House rented by US$ 37.00 per month. “The owner of the House is a very good person and rented for me for this price, because she had pity to me that I’m poor,” says she, while blows away the immense amount of vultures to collect a bunch of garbage cans recently dumped by a truck the city urban cleaning.
Mother of 8 children, 7 men and 1 woman, all married, Dona Irente says that when she was married, worked in the cocoa crop in Sen. Jose Porfilio. She says she’s gone why not stand over her husband who always came home drunk and abused her. His children still work on cocoa farms in the collection area. Her daughter lives in Vitoria do Xingu, and married and works as a diarist.
Every day, dona Irene arrives to dump the 7:0 and works up to the 1:0 pm and says that already came to collect about 150 pounds between aluminium and plastic, which earned him an unexpected cash at the time that allowed him to buy a new stove.
In July 2012, Norte Energia had started a training course for all people working in the dump, which included notions of cooperative and administration and general operation press to make the bales with the material collected and all selected, properly separated. Some of the people were afraid of this course because I have faith in the company and proposals that could earn less at the end of the month, due to the costs that involve the operation of a cooperative. In the dump of Altamira, each manages its own production and how to sell. There are some cases in which two families work together and split the profit. As has no expenses, the profit is pretty much split 50% gross for each.
The course offered by the North followed not Power forward due to mistrust of scavengers, distrust that was shaken with the fishermen, indigenous protests that occupied by 2 times the power plant construction sites claiming the care that had been signed between the Consortium and Funai, Ibama to the beginning of the works and then with the workers ‘ strike that culminated in three days that was within two of the 3 main construction sitesBelo Monte, and Sitio Pimental, causing enormous damage to the Consortium, with accommodation and machinery destroyed burned.
Due to these protests, workers dump they felt unmotivated to continue the course, fearing that the consorcio atendece not all that was offered.
Dona Irene among those that did not follow the course by mistrust and preferred to follow working alone, in the maximum with the help of the other companions of the dump.
Belo Monte. Pharaonic projects of the federal Government put at risk the largest forest in the world
Belo Monte is one of about 120 dams and hydroelectric projects that the Brazilian Government has planned for the Amazon region in order to generate electricity for its growing economy – primarily for the industries. On the other hand, environmentalists and indigenous groups opposed to oppose the dam project. According to them, the Amazon which houses 60% of the largest forest in the world, is threatened by the rapid development of the country. The area is currently inhabited by more than 20 million people and is challenged by deforestation, agricultural, mining, the Government projects of construction of the dam, real estate speculation, including the occupation and deforestation of forest reserves and indigenous lands.
Considered the most important work of the growth acceleration program (PAC) of the Federal Government, Belo Monte consumed up to now about $ 2 billion, which represents only 20% of its budget. Recently the National Social Development Bank (BNDES) released US $ 10.5 billion to the consortium which manages the construction of Belo Monte. $ 7 billion will be transferred by the Federal Economic and $ 2 billion by BTG Pactual. The rest will come exclusively from the BNDES, with public resources.
According to the institution, this is the largest funding approved in the country and with each release of resources, Norte Energia should demonstrate environmental compliance
The works of Belo Monte suffered several stalls since its inception. The first in April, when workers went on strike claiming lowered (increased family visits) and salary increase. Another in June due to indigenous occupation of the construction site during 21 days, demanding the fulfillment of conditions that would reduce the impact of the work in their villages. The third took place in August, by a decision of justice by the Federal prosecution service complaints. The fourth in September, with a new fishing and indigenous occupation for more than a month. Another took place in November, after a meeting of workers who refused the Union’s proposal and the Consortium, which resulted in three days of fires and destruction in two major construction sites of Belo Monte. The company suspended work and released workers, claiming lack of security. And more recently, a group of around 200 indigenous of eight ethnic groups, among them, Arara, Kayapó, Munduruku and Jurura, occupied by a week the main construction of Belo Monte, where is the power generator of the plant, demanding that the works were suspended until they are heard by the federal Government.
After 8 days the Federal Regional Court 1a. Region (TRF1) granted, to 22:40 from Wednesday, 8, the repossession of the construction of the Belo Monte hydroelectric power plant. Was allowed the use of police force.
The Indians asked for the presence of Gilberto Carvalho, Secretary General of the Presidency of the Republic to dialogue, which did not attend.
The decision to reinstate the possession was taken by judge Selene Almeida, TRF1, and dispatched by Judge Maria Cristina Altamira Guedes, Sérgio. The order also rejected requests from the Federal Public Ministry (MPF) of Pará which was allowed the presence of journalists and lawyers in the occupation.
After tension of 24 hours the repossession operation mounted since the early hours of the morning was suspended at the end of this afternoon.
The day was tense in the vicinity and inside the Belo Monte dam site. Indigenous peoples that will be affected by the projects on the rivers Tapajós, Xingu and Teles Pires claim the query provided for works that the federal Government intends to carry out in indigenous lands in Amazonia.